Duque ganhou uma vaga de senador de Sérgio Cabral para envergonhar a política do Rio

Você sabia, eleitor do Rio de Janeiro, que ao votar em Sérgio Cabral para o Senado em 2002 estava elegendo, na verdade, o senhor Paulo Duque, que acabaria se transformando agora, em meio à crise do Senado, numa das figuras políticas mais bizarras e criticadas do país?


Talvez você não tivesse votado em Sérgio Cabral naquela eleição se soubesse que, graças a ele, estava mandando para o Senado um homem capaz de dizer esta frase, destacada na revista Veja desta semana:

"Meu Deus, eu mesmo empreguei mais de 5000 pessoas nestes anos todos de vida pública, e elas estão felizes, umas me agradecem, outras não. O empreguismo tem de ser elevado."

Mais um desserviço prestado por Sérgio Cabral ao Rio: parir o suplente que vai desmoralizar a imagem política do Estado.

Vejam aqui o que parte da imprensa diz neste fim de semana da criatura política gerada por Sérgio Cabral.

Elio Gaspari, na Folha e no Globo:

DUQUE DE CABRAL
Custaria pouco ao governador Sérgio Cabral chamar o pizzaiolo Paulo Duque, seu segundo suplente no Senado, para uma conversa no Laranjeiras. O comportamento de Duque não tem paralelo na história da bancada do Rio de Janeiro. Nessas cadeiras já estiveram Diogo Feijó, Quintino Bocayuva e Afonso Arinos de Mello Franco. Cada dia de permanência de Duque no Senado equivale a um choque de desordem do governo de Cabral, pois bastaria que Regis Fichtner, seu primeiro suplente, deixasse a Casa Civil do Palácio Guanabara e assumisse a cadeira do Rio.

Trechos do editorial da Folha de S. Paulo:

Senador sem voto
PAULO DUQUE , eleito para presidir o Conselho de Ética do Senado, não teme "ser cobrado por nada". Considera "uma bobagem inventada por alguém" os atos secretos que durante anos sustentaram nepotismo e privilégios na Casa.
O peemedebista do Rio já disse a que veio. Espere-se dele tudo, menos levar adiante as quatro denúncias contra seu correligionário, o presidente do Senado, José Sarney, que correm no conselho, assim chamado "de ética".
Com todo o respeito à categoria dos pizzaiolos, que agora se levanta em justo protesto contra uma frase infeliz do presidente Lula, de Duque se pode dizer que está disposto a colocar a mão na massa para salvar Sarney.
(...)
O caso de Duque agrega outro fator à desfaçatez: não teme ser cobrado porque nem sequer foi votado. Foi o segundo suplente a assumir a vaga de Sérgio Cabral, eleito em 2006 governador do Rio.
Um quinto dos senadores em atuação ascendeu ao posto da mesma forma que Paulo Duque. O sistema da suplência não reflete a vontade explícita dos eleitores e deveria ser modificado. Em casos de saída definitiva do titular, seria preciso realizar uma nova eleição.


Trechos de reportagem da revista Época:

O senador Paulo Hermínio Duque Costa (PMDB-RJ) é um político de sorte. José Sarney também. Na semana passada, uma manobra dentro da base governista deu a Paulo Duque aquela que define como a maior “vitória” de sua carreira: a presidência do Conselho de Ética do Senado, o colegiado que tem a obrigação de investigar denúncias contra membros da Casa, inclusive o presidente José Sarney, alvo de quatro denúncias por quebra de decoro. Será uma surpresa absoluta se Paulo Duque se mover nessa direção, porém.
Ele é o segundo suplente do governador do Rio, Sérgio Cabral. Sem um único voto na urna, assumiu a vaga de senador em 2007 porque o titular foi para o governo e o primeiro suplente, Regis Fichtner, foi nomeado chefe do Gabinete Civil. Apesar do jeito simplório de se comunicar, o senador é conhecido pelo temperamento irado, característica que favoreceu sua escolha por Renan Calheiros, líder do PMDB e o verdadeiro homem forte da instituição. Sem projeto de carreira e sem um eleitorado para prestar contas, é o político ideal para assumir missões ingratas e até desmoralizantes aos olhos do eleitorado, pois não tem nada a perder. Sua primeira declaração depois da nomeação já causou espanto. Disse que os atos secretos são “besteiras, não têm importância”. Comentando seu estilo, um aliado do governo diz: “Duque tem jeito de doido, mas de doido não tem nada”.

Em fim de carreira, Paulo Duque teve oito mandatos de deputado estadual. Sua última vitória eleitoral ocorreu em 1994. Aos 81 anos, é lembrado por ser um dos primeiros políticos a propor a fusão entre o Estado da Guanabara e o do Rio de Janeiro. Foi relator da CPI que investigou a matança de mendigos durante o governo Carlos Lacerda e defendeu a inocência do governador. Na década de 70, integrou-se à política clientelista do Rio de Janeiro, onde empregos e favores são trocados por votos até hoje. Define- -se como um “clientelista convicto”. (...) Depois de escolhido, Paulo Duque disse a Renan Calheiros que confia na falta de memória da população. “Vai esquecer todas as denúncias.” Aos jornalistas repetiu: “A opinião pública muda de ideia”.

E no Estadão:
Depois de contar que aprendeu a fazer política com o ex-governador Chagas Freitas, o senador Paulo Duque (PMDB-RJ), de 81 anos, atual presidente do Conselho de Ética da Casa, declara:
"Sou chaguista mesmo. O meu estilo é atender ao povo. Atendo muito. Minha preocupação principal não é com grandes cargos na Petrobrás, é o feijão com arroz: cuidar da bica d?água, de internar quem precisa, de nomeação de gari. Dou valor a isso."

0 Comente aqui: