MITO NÚMERO 4
Populismo*
“Para bem conhecer a natureza dos povos, é necessário ser príncipe,
e para bem conhecer a dos príncipes, é necessário pertencer ao povo”
Maquiavel
A VERDADE SOBRE O MITO NÚMERO 4“Para bem conhecer a natureza dos povos, é necessário ser príncipe,
e para bem conhecer a dos príncipes, é necessário pertencer ao povo”
Maquiavel
É curiosa a trajetória de determinadas expressões. Nascem sob o signo do benfazejo e vão aos poucos se transmutando. Primeiro, são contaminadas por interpretações pejorativas; depois, transformam-se mesmo em sinônimos do mal; para, finalmente, tornarem-se palavrão. Esse é o sinuoso caminho da expressão populismo. Hoje, virou moda depreciar a ação política com acusações genéricas e inconsistentes de prática populista.
A começar por Getúlio Vargas, vários líderes brasileiros comprometidos com projetos de inserção social das massas urbanas foram taxados de populistas. Encontrava-se, assim, uma maneira enviesada de desmerecer as ações de natureza popular, sem criticá-las de forma direta.
As elites não têm coragem para assumir críticas abertas a projetos de assistência aos excluídos. Prefere desmerecê-los a partir de uma sofisticação conceitual.
Tratam-nos genericamente como populistas, na vã esperança de condená-los, mas sem o ônus decorrente de um confronto direto com a enorme massa de beneficiários dos programas.
“Garotinho é o demagogo dos piscinões”, bradou Alberto Dines no “Jornal do Brasil” em 25/05/2002.
“Garotinho é populista e usa a oratória para se impor”, acusa Daniel Vargas no site www.unb.br em 14/06/2002.
“Somos liberais e não temos vocação para populismo. Garotinho é populista”, complementa César Maia em 27/06/2003.
Vejam: não há críticas diretas a projetos; apenas conceituações pejorativas a respeito do personagem responsável pelos programas sociais.
Essa é a engenhosa forma pela qual a elite tenta reduzir ou até mesmo eliminar a importância estratégica de iniciativas como o restaurante popular, as farmácias populares, o Cheque-Cidadão e tantos outros que compuseram a rede de proteção social erguida por Garotinho e Rosinha. Foram projetos que, ao lado de medidas estruturantes, visaram a amparar a enorme massa de excluídos.
Antes de refutar, é necessário entender o que é populismo. A expressão surgiu nos anos 30, para designar as ações de Getúlio Vargas voltadas para a inserção da enorme massa de trabalhadores rurais que começavam a migrar para as capitais, num acelerado processo de urbanização.
Homens que haviam perdido a identidade com o campo, mas não chegaram fincar raízes na cidade. A expressão, portanto, era positiva no coração do povo. Coube às elites, ameaçadas pelas transformações, travesti-la de ofensa para finalmente empregá-la como palavrão. Hoje, populismo virou clichê, banalizado para ofender, diminuir e interditar.
Para aclarar esse debate, Garotinho publicou o artigo “A doença do antipopulismo” em “O Globo”, cujos principais trechos são aqui reproduzidos:
Hoje, tentam me pespegar este o rótulo na vã ilusão de que assim depreciam meus valores, eliminam meus sonhos, reduzem meus propósitos. Enganam-se, pois a cada provocação reajo com mais vigor, a cada insulto respondo com mais determinação. Desejo, sim, um Brasil nacionalista, socialmente justo, com mais emprego, menos pobreza, voltado para os interesses dos setores produtivos da sociedade. E não me importo de ser tachado de populista cada vez que explicito uma dessas propostas.
Acusam-me de populista por implantar projetos sociais inteiramente dirigidos às camadas populares. Rotulam-me desta forma por conta de minha determinação de manter uma rede de proteção social que hoje atende a mais de 1,8 milhão de pessoas – brasileiros postos à margem da dignidade social.
São ambíguos nossos detratores. Excluem, acirram as diferenças, promovem a mais deletéria concentração de renda do mundo – só perdemos para Serra Leoa, na África – e ainda têm a desfaçatez de condenar programas sociais, taxando-os de populistas.
Eu e meu partido temos um projeto para o país, cuja validade e oportunidade são julgadas nas urnas. Não pretendemos nos intimidar diante de um rótulo nascido da metamorfose elitista que travestiu de ofensa uma expressão positiva no coração do povo.
Longe dos malabarismos acadêmicos e do saudosismo oligarca, estou com o povo e com a sua memória do populismo de Vargas, do trabalhismo de tantos líderes populares importantes e das reformas de base tão prometidas quanto adiadas em nome daquilo a que as elites costumam chamar de modernidade.
Disparem contra mim o desaforo que eu farei dele instrumento de transformação social.
*A acusação de populismo é usada pela elite como depreciação dos projetos sociais e das políticas antineoliberais. Tentam, com isso, apagar do imaginário popular a lembrança dos governos assim estigmatizados; ou fazer a população descrer de projetos alternativos àqueles que submetem a nação aos ditames do capital financeiro.
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