Um novo choque de republicanismo

Vale a pena ler artigo publicado no Jornal do Brasil, de autoria de Fernando Peregrino, sobre os ideais republicanos no país.

Leia abaixo:

Um novo choque de republicanismo
Fernando Peregrino, Jornal do Brasil
RIO - A história tem o pendor de nos ensinar a entender o presente e de clarear o futuro. Tem também a qualidade de nos lembrar que ela não começa em nós. Nesses tempos difíceis da política brasileira, é sempre bom resgatar biografias de personagens para visualizar o que pode ser construído pelos homens. Sob essa perspectiva, o nosso Estado foi protagonista da história da República brasileira, que marcou o presente e delineia nosso futuro.

O livro Nilo Peçanha e a revolução brasileira (1969) traz à tona uma parte dessa história de luta republicana. Nilo Peçanha: “Um menino da padaria que ascenderia à Presidência da República”, diz o autor do livro, Celso Peçanha, nascido na cidade de Campos, Norte Fluminense, foi presidente do estado do Rio em 1914, vice-presidente e presidente da República.

Sempre teve em mente que não bastavam os valores democráticos de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa. Por isso, defendia a ideia da República como expressão da centralidade do povo no processo político; contra o patrimonialismo; pela industrialização do país; pela reforma agrária; pela proteção da empresa local; pela justiça tributária; pela autonomia dos estados federados e contra a exploração de nosso país.

Visões como essas orientaram o desenvolvimento de economias modernas da Europa, dos EUA e do Japão. Suas propostas eram portadoras de um futuro de prosperidade para nosso país, apoiadas nos verdadeiros ideais republicanos. Basicamente o que defendia foi mais tarde empreendido por Vargas.

Para dar conta de seu programa republicano, Nilo Peçanha fez o que em geral a elite política brasileira não costuma fazer: a mobilização popular como instrumento para garantir a sua soberania. Foi assim que fez em 1914 para assegurar sua posse ameaçada pelas oligarquias. Assim como em 1922, em uma campanha memorável para a Presidência da República. Cuidava da organização dos setores médios e populares criando os clubes republicanos como instrumento de luta contra as oligarquias hospedadas no estado, e mais tarde organizou junto com outros líderes a chamada Reação Republicana, contra a velha política do café com leite.

Porém, a República ficou incompleta. Hoje, o que assistimos é a maioria dos políticos servindo-se do Estado; a liberdade de imprensa indo até onde o poder econômico determina; os direitos humanos não serem exercidos nas esquinas por onde perambulam homens e mulheres em estado de miséria; a educação não chega a todos; a saúde ainda é um privilégio de poucos; o desemprego estável; a maioria da juventude afundando-se no consumo das drogas, e a violência urbana às portas da barbárie.

Este artigo é uma modesta reflexão sobre nossa história. Visa lembrar que o nosso Estado tem tradição de luta pelos ideais republicanos. Para isso, o ex-governador Nilo Peçanha apostava no envolvimento direto da população. Recentemente, foi criado em nosso estado algo similar, o Movimento Republicano Popular. Coincidência ou não, por um campista e ex-governador do estado do Rio, Anthony Garotinho. O movimento, à semelhança dos clubes republicanos de Nilo Peçanha, se destina a organizar cidadãos e resgatar nas mentes e corações dos fluminenses os ideais republicanos e o sonho de um estado plenamente desenvolvido em todas as suas regiões.

* Fernando Peregrino é mestre em engenharia de produção pela Coppe/UFRJ e ex-secretário estadual de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.

7 Comente aqui:

Leonardo disse...

Muito bom o artigo. Parabéns

Claudia Sorriento disse...

Conhecer a história pavimenta o futuro

Nadja disse...

Estava na hora de alguém realmente se preocuoar em resgatar o ideais republicanos.

Orlando Santos disse...

Adorei o artigo do professor Peregrino. Muito atual e esclarecedor. Parabéns! O Rio precisa de pensadores assim.

Dario Mendes disse...

Informativo e bem escrito

Marcio Rocha disse...

Adorei o artigo. Uma aula de história.

Quevedo disse...

Realmente, muito instrutivo o artigo.