Folha de SP: Cabral desmonta esquema de segurança deixado por Anthony Garotinho

O ex-governador Anthony Garotinho sempre aguardou por Justiça pelos ataques sofridos por parte de certo segmento da imprensa, que sempre o perseguiu.

Essa Justiça começa aparecer, como se nota no artigo do influente e respeitado articulista Janio de Freitas, da Folha de São Paulo (leiam abaixo).

Paciente, Garotinho aguarda que também os jornais do Rio de Janeiro, que andam tão silenciados por verbas publicitárias oficiais, também lhe façam justiça.

Como diz o ditado, a Justiça tarda mas não falha:

JANIO DE FREITAS

O que importa não importa

A QUANTIDADE de relações entre as atuais fuzilarias no Rio e a Olimpíada, nas considerações feitas por autoridades de todos os níveis e "especialistas" de diferentes calibres, é uma oportuna demonstração de como o problema da insegurança é tratado segundo as circunstâncias, os interesses ou desejos, e a dispensa de reflexão.

Diante disso, o absurdo é dizer-se que a Olimpíada é secundária, a imagem do Rio é secundária, tudo assim é secundário, com esta exceção: o que importa, o único a importar, é o direito de cada pessoa a viver sem ameaça criminosa, sem temor da sua cidade, sem restrições ao direito vital de usá-la, andá-la e vê-la toda.

O que importa é a relação da cidade com a vida, que são os seus habitantes, na qual haver ou não haver Olimpíada não é chave para nada que importa na vida.

O que importa, porém, não está, nunca está, nas cogitações que se impõem, pelos diferentes meios de fazê-lo.A hipótese de que um criminoso beneficiado pela tal progressão da pena, que a reduz a um sexto da sentença, foi o deflagrador dos atuais combates promete, enfim, objeções àquele benefício.

Presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes refere-se aos "que conseguem um regime semiaberto ou aberto e depois não voltam ao presídio" para deduzir: "Tudo isso precisa ser seriamente discutido". Dedução muito apropriada nas circunstâncias.

Mas, sem circunstâncias destas, o próprio Supremo Tribunal Federal há pouco derrubou o fim, aprovado pelo Congresso, da tal progressão da pena para autores de crimes hediondos. O STF apenas admitiu que os benefícios da prisão semiaberta e aberta se apliquem depois de cumprida metade da pena, e não um sexto.

A propósito ainda: ao fixar a medida de metade, tomou o poder do Congresso, ao qual cabem as decisões na matéria. E nisso fez uso do interessante pressuposto de que, se beneficiado na metade, e não no sexto da pena, o criminoso bárbaro reduziria a probabilidade de reincidência.
As circunstâncias favorecem, também, e até que enfim, a acusação ao governo federal de que não faz a sua parte, fundamental, na ação contra a criminalidade urbana.

Da burocracia a proibições militares antiquadas, o secretário de Segurança do Estado do Rio, José Mariano Beltrame, liberou a própria língua. Tem plena razão. A cada eclosão mais aguda de criminalidade, ressurge a lengalenga da Força Nacional de Segurança, que nada mudou nem se sabe por onde anda, ou se ainda anda; das verbas de repente liberadas, de mais discursos de Lula.

Nada que ultrapasse o blablablá de ocasião, enquanto as armas e as drogas continuam entrando.

Sem reparo ao desempenho funcional de Beltrame, pela dedicação, sua crítica ao governo federal encontra duas adversidades.

Uma, a de que as omissões falastronas do governo federal não estão sozinhas nas responsabilidades pela violência crescente; outra, a de que o governo Sérgio Cabral reteve 80% da verba disponível para investimento na área policial e só gastou 11,7% da verba total concedida, no orçamento do Estado, à secretaria de Segurança: R$ 491 milhões da verba de R$ 4,2 bilhões.

Os dois governos estão de braços dados na quota de contribuição para a criminalidade.

Pode-se dizer que o dispositivo de combate ao crime é, no Rio, o deixado pelo governo anterior, cujos feitos foram obscurecidos por interesses políticos e econômicos.

Foram criadas, por exemplo, cerca de cem das chamadas "delegacias legais"; novas casas de custódia esvaziaram as celas criminosamente superlotadas das delegacias; já imensa, a Barra da Tijuca recebeu o batalhão da PM que esperou por décadas, e a PM mesma teve o seu contingente quase duplicado.

Nem 10% de cada um desses itens foram feitos nos últimos anos, sendo que o contingente da PM, de comprovada insuficiência, mal recebe a reposição das baixas. Verbas retidas aparentam bons resultados, no entanto desastrosos.

Apegar-se à comparação com Londres, Nova York e Bogotá, que dizem haver superado suas ondas criminais, pode ser útil como subterfúgio. Apesar de pequenos problemas. No caso de Bogotá, além de corresponder a uma fração pequena do Rio, não venceu a criminalidade, cuja preferência por sequestros prossegue com êxito.

A criminalidade de Nova York não teve, nem tem no que sobra, semelhança alguma com a do Rio, e das cidades brasileiras. Já um tal Sir Craig Reedie, que em causa própria meteu Londres no assunto, porque integra o Comitê Olímpico Internacional que destinou a Olimpíada ao Rio, deixou o seu palpite como algo de má-fé ou imbecil.

As ocorrências no Rio, diz ele, são "insignificantes, comparadas ao que houve em Londres em julho de 2005", quando a violência de 52 mortos e 700 feridos não se refletiu na Olimpíada recém-destinada à cidade. O que houve em Londres, porém, foi um ato de terrorismo de homens-bomba, absolutamente sem comparação com qualquer episódio brasileiro.

Mas o que importa não importa
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