Os policiais, também pais de família, estão morrendo por nada

Leiam abaixo o artigo do editor de Cidade do Jornal do Brasil em que cobra ações mais inteligentes do Governo Cabral na luta contra a violência no Rio de Janeiro.

Carta aberta ao governador do Rio
Marcelo Migliaccio

mm@jb.com.br
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Governador Sérgio Cabral, permita-me tratá-lo por “você”, porque finalmente a nossa geração chegou ao poder. Decidi escrever-lhe esta carta após o nosso encontro do último dia 12, quando, com muita coragem, você defendeu a legalização das drogas – desde que numa decisão internacional respaldada pela ONU e a OMS – como alternativa para frear os violentos combates entre policiais e traficantes.

Ocorre que essa decisão, se um dia vier a ser tomada, ainda está longe de acontecer. E, enquanto as liberdades individuais não chegarem a esse requinte, muitas pessoas inocentes vão morrer pelo simples fato de viverem em favelas. Os embates entre traficantes armados até os dentes e policiais militares e civis atingiram uma virulência impensável, capaz de derrubar helicópteros e avariar veículos blindados.

Pela lei brasileira, um gover-nador de estado não tem o poder de acabar com a proibição das drogas, mas pode colocar um ponto final nesta guerra que não leva a nada, a não ser à desgraça de famílias que não têm dinheiro para morar longe dos esconderijos das quadrilhas.

A cada três meses, o Instituto de Segurança Pública divulga os números do combate ao crime: quilos e mais quilos de drogas apreendidas, novas prisões de bandidos que superlotam as cadeias. Mesmo assim, o poder do tráfico só aumenta. No lugar de um traficante morto ou capturado, há sempre, infelizmente, um substituto pronto para entrar.Governador, há décadas, a nossa polícia está enxugando gelo.

Os policiais – também pais de família – estão morrendo por nada, porque não há efeito prático nenhum nessas operações. Crianças, trabalhadores, aposentados são vitimados quase semanalmente pelas famosas balas perdidas. Não são meus filhos, governador, nem seus.Mas são os filhos do garçom que nos serve no restaurante, da faxineira que deixa nossas casas um brinco ao fim de uma dura jornada de trabalho, dos operários que movem nossas indústrias. Essas são as maiores vítimas de uma guerra que pode mudar de rumo com uma simples decisão sua.

Não dá para ler no jornal que crianças de escolas públicas estão sendo treinadas para se abrigar de tiroteios. Nem que o estresse delas é semelhante ao dos meninos e meninas iraquianos ou bósnios.Acabe com isso, governador, você pode. Dê-nos de presente de Natal a paz! Invista mais em Unidades de Polícia Pacificadora, e menos em caveirões. Fiscalize melhor as fronteiras estaduais por onde entra esse armamento pesado.

Quando o estado chega com cidadania, a bandidagem some.Sem um tiro sequer.Incomoda o fato de a polícia agir de formas diferentes em situações análogas, revelando preconceito.Quando recebem um aviso de que há um assalto com reféns, como os policiais procedem? Cercam o lugar. Não invadem para não colocar em risco a vida de inocentes. Isso é ensinado em qualquer academia de formação de oficiais e praças: preservar a vida do cidadão primeiro, depois tentar prender o marginal.

Mas, nas favelas, onde a população é obrigada a conviver com os traficantes – já que é refém da sua própria condição financeira – esse preceito é ignorado. Em suas incursões, a polícia contraria seu primeiro mandamento, que é resguardar o cidadão honesto que está na linha de tiro.Vamos investir na inteligência, no combate ao crime com precisão, na antecipação dos conflitos entre quadrilhas e das invasões como a desta semana na Tijuca.

Cerquemos as favelas, asfixiemos a venda de drogas e quando a polícia entrar, que seja para ficar. Mas não disparemos mais nenhum tiro. Podemos vencêlos sem desgraçar famílias cujos mortos não serão repostos no dia seguinte como acontece com drogas, armas e soldados do tráfico.

2 Comente aqui:

Fernando disse...

por nada mesmo. Basta ver os salários dos PMs. uma vergonha!

Fabiano disse...

Querem uma polícia europeia, mas pagam salário de terceiro mundo. Assim. não vai haver solução nunca