Colunista destrincha a tentativa de chantagem de Cabral a Dilma Rousseff

O colunista Dácio Malta, do blog Youpode destrincha a tentativa de achaque eleitoral de Cabral a Dilma Rousseff ao analisar reportagem de O Globo do último domingo:

http://youpode.com.br/blog/alguemmedisse/2010/02/16/cabral-chantageia-dilma-rousseff/


Agora vamos aos destaques do enredo, e os comentários onde o samba atravessa:


1 - Diz o enredo: “Um aliado próximo do governador Sérgio Cabral (PMDB) revelou que já começaram as negociações para convencer o ex-governador Anthony Garotinho (PR), até aqui o mais ferrenho opositor de Cabral, a sair do páreo em troca de alguma vantagem política”. Que os repórteres utilizem uma declaração em ‘off’, nada contra. É pena que a direção nacional do PR já divulgou uma nota, antes do Carnaval, informando que a candidatura de Garotinho é inegociável. E Cabral sabe disso.

O triste é que a fonte declara que Cabral estaria disposto a pagar, pela desistência do seu “mais ferrenho opositor”, que ganharia “em troca alguma vantagem política”. Só mesmo rindo. Ou chorando. Então o governador acha possível comprar uma
candidatura com dinheiro ou com cargos? É muita cara de pau, para se dizer o mínimo. A última ação de Cabral contra Garotinho, foi a de expulsar a filha Clarissa Garotinho, da presidência da Juventude do PMDB, e entronizar o filho do governador.

2 - Diz a fonte de ‘O Globo’: “Não acredito que as convenções partidárias vão confirmar as candidaturas previamente colocadas. Até lá, muita água vai passar por debaixo da ponte. Há muito balão de ensaio”. A declaração é de tal descaramento, que a fonte deve ter sido, não um assessor, mas sim o próprio governador. Ninguém é tão ousado quanto ele.

3. Mais uma da fonte: “Um dos trunfos do grupo de Cabral, no esforço de convencer Garotinho a abandonar o páreo, é o pouco tempo de TV que o ex-governador terá (cerca de dois minutos) numa disputa cada vez mais voltada para a mídia eletrônica”. Em princípio, isso é verdade, mas por isso mesmo Cabral não deveria temer o adversário, já que terá mais de oito vezes o tempo de Garotinho na TV. Só que o ex-governador, ao que tudo indica, não ficará apenas com esses dois minutos. Ele pode chegar a cinco, ou até mesmo um pouco mais, se tiver o apoio do PDT. O ministro Carlos Lupi já esteve com ele, e foi ao seu encontro a pedido da ministra Dilma Rousseff. Aliás, a candidata do PT à Presidência não tem porque dispensar, pelo menos 20% dos votos do Rio que Garotinho detém hoje.

4. O enredo: “Outra novidade esperada é a concretização de uma aliança inédita, no Rio, entre peemedebistas e petistas”. Essa aliança já houve no segundo turno da última eleição. No primeiro turno, Sergio Cabral deve ter sido o único candidato a governador do país que tenha ficado em cima do muro. Ele imaginava que Geraldo Alckmin pudesse vencer a eleição. Hoje sabe-se que Lula usa Cabral, já que nos dois outros grandes Estados do país - São Paulo e Minas - os governadores são do PSDB. Mas o Presidente sabe que Cabral não é pessoa confiável. Por isso trabalha sempre com um pé atrás.

5. E continua o samba: “Mas o governador sabe que, mesmo após a derrota de Lindberg Farias no PT fluminense, o que afastou o prefeito de Nova Iguaçu da disputa sucessória, ainda terá de acomodar os aliados, já que pelo menos três deles (Marcelo Crivella, do PRB, com apoio de Lula; Jorge Picciani, PMDB; e Benedita da Silva, do PT), cobram apoio de Cabral na disputa das duas vagas ao Senado Federal”. Cobram nada. Eles cobram o apoio é de Lula. O apoio de Cabral não serve para absolutamente nada, a não ser arranjar dinheiro para pagar suas campanhas. Lula vai apoiar Crivella e o/a candidato/a do PT. Jorge Picciani seria a única exigência de Cabral. Vamos ver a quem o governador trairá. Será que ele vai trair o candidato preferencial de Lula? Ou vai trair o PT que o apóia? Ou trairá o seu próprio candidato? Falta pouco tempo para cair a máscara carnavalesca do governador.

6. O jornal: “Depois de encerrar, à 1h40m de ontem, sua participação no carnaval 2010, a ministra só voltará ao trabalho amanhã”. “Só amanhã”? Queriam que ela voltasse quando? Hoje, na Terça-Feira Gorda? E o governador? Será que ele volta amanhã? Ele nunca voltou nem na quarta, nem na quinta, nem na sexta. Com sorte na próxima segunda. A não ser que, nesse meio tempo, Lula o chame para ir a Brasília. Aliás, Lula está estressando Sergio Cabral, pois não conversa com ele. Amanhã, quarta-feira de Cinzas, o Presidente receberá até o governador em exercício de Brasília, Paulo Octavio. E Cabral ainda não tem nada marcado. Mas verdade seja dita: se Lula marcar audiência para Cabral amanhã, ou mesmo nessa semana, o estresse será ainda maior: já pensou ter de trabalhar em plena quarta-feira de Cinzas?

7. O enredo mostra o puxa-saquismo desnecessário de Cabral com Dilma Rousseff – que nos bastidores é ridicularizada por ele, por não ser carismática. Fingindo-se de repórter de TV, disse Cabral:

“- Ministra, como a senhora se sente ao receber aplausos na Passarela do Samba? - perguntou um sorridente governador.

- Olha, Sérgio, nesse momento eu não prestei atenção. Eu não vi - respondeu.
A ministra estava certa. Não houve aplausos para ela”. Sem comentários.

8. O enredo de novo: “De acordo com aliados do governador, a maior preocupação de Cabral é com a entrada de Gabeira no cenário: há um temor de que, em um segundo turno, haja uma nacionalização a campanha”. É claro que haverá. Mas Lula não tem quase 80% de popularidade? Por que o temor de Cabral? Se Lula tem a capacidade de transferir votos para Dilma, por que não teria a mesma capacidade para transferi-los para Cabral? O governador não deveria ter medo de nada. Só que a verdadeira preocupação de Cabral é outra: ele teme, e com razão, é não ir para o segundo turno.

9. Diz ‘O Globo’: “- O presidente ligou para o governador, e a conversa foi marcada para depois do carnaval - disse o vice-governador Luiz Fernando Pezão, acrescentando que Cabral está convencido de que Dilma ficará em apenas um palanque no Rio”. Esse seria o óbvio, mas com alguns reparos. O Presidente não ligou para Cabral. Cabral foi quem cobrou a vinda do Presidente, e esse deu, como desculpa, uma hipotética hipertensão da Primeira-Dama, Dona Mariza. Que uma conversa foi marcada para depois do Carnaval, não existe dúvidas, até porque não poderia ser antes.

Cabral queria que fôsse na semana passada, mas Lula disse que estava ocupado. E o encontro ainda não tem data marcada. Se tivesse dia e hora acertado eles informariam. E mais: Cabral não está convencido que Dilma ficará em apenas um palanque no Rio. Isso é o seu desejo, e não o seu convencimento. Por isso ele quer conversar com Lula. Mas se Dilma vai, na Bahia, ao palanque de Jacques Wagner e de Geddel Vieira Lima - seus amigos - por que no Rio seria diferente? Apenas para atender ao capricho do governador? Dilma não é mulher de atender a caprichos de quem quer que seja.
Agora a nota 10 do enredo.

Todo esse texto acima saiu publicado na primeira edição do ‘Globo’. Na segunda edição, o jornal publica algo inacreditável, e aí não tem fonte. É o próprio Cabral que se mostra como puxador do samba, quando canta sua chantagem descarada. Depois de se referir ao encontro de Dilma com Garotinho, diz o enredo: “Cabral disse que há uma equação eleitoral que “não fecha”, e deu a entender que Dilma poderá perder seu apoio”.

Em seguida, a chantagem do puxador:

- Acho o seguinte: quando há dois palanques, pode ser um problema. Aqui, a equação não fecha. Como é que ela (Dilma) vai no mesmo dia para um palanque da situação e, depois, para um da oposição? Vai acabar perdendo o voto até da minha mulher.
Outra vez para firmar, vamos repetir o refrão:

- Acho o seguinte: quando há dois palanques, pode ser um problema. Aqui, a equação não fecha. Como é que ela (Dilma) vai no mesmo dia para um palanque da situação e, depois, para um da oposição? Vai acabar perdendo o voto até da minha mulher.
Como Lula e Dilma não são bobos, eles não irão reclamar.

Mas o fato de não reclamarem, não quer dizer que eles não tenham ouvido a chantagem.
E, nesse caso, fica mais do que provado que o governador não é mesmo confiável.
Ele é capaz de tudo.

Quem viver verá…

1 Comente aqui:

Alex Ferreira disse...

Muito boa a análise do colunista. Vou mandar para meus amigos.