Depois de revelar que a “pacificação” nas favelas do Rio foi feita com base num acordo entre o governador Cabral e os traficantes, que podem “trabalhar” livremente, desde que não usem armas nem intimidem os moradores das comunidades, o jornalista Hélio Fernandes, da Tribuna da Imprensa, publica nesta sexta-feira detalhes de como o (des) governador Sérgio Cabral teve a ideia de forjar a “pacificação das favelas”.
Leitura imperdível!
Conforme foi mostrado ontem, as reportagens de Vera Araújo em O Globo, nos dias 2 e 3 deste mês, (feitas com base em impressionantes fotos batidas por um morador da Cidade de Deus) confirmam as denúncias que fiz neste Blog em dezembro e janeiro.
Naquela época, em uma série de artigos, mostrei que nas “favelas pacificadas”, onde foram instaladas as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), o que houve foi um acordo espúrio e fora-da-lei entre as autoridades e os traficantes.
Mas como um governador pôde chegar à tamanha baixeza, fazendo “entendimentos” com criminosos de altíssima periculosidade, responsáveis por uma das maiores chagas da humanidade, que é a atual disseminação do consumo de drogas?
A história é longa e apaixonante. Começou porque, já entrando no terceiro ano do mandato, o governador cabralzinho estava em baixa e sabia que teria dificuldades para se reeeleger. Cada vez que saía o resultado da pesquisa do Datafolha, com avaliação dos governadores dos 10 maiores estados, ele entrava em desespero.
Vinha em queda livre nesses levantamentos, e os mais recentes chegaram a mostrar que, entre os dez, cabralzinho estava em 8º lugar, só ficando à frente de José Roberto Arruda (DF), já envolvido no escândalo do mensalão e do dinheiro na meia, e Yeda Crusius (RS), que acabara de passar por um processo de impeachment com denúncias gravíssimas de desvio de recursos.
As pesquisas do Datafolha sobre o desempenho dos principais governadores, no ano passado, traziam o seguinte resultado: 1º – Aécio Neves (MG), 2º – Eduardo Campos (PE), 3º – Cid Gomes (CE), 4º – José Serra (SP), 5º – Luiz Henrique (SC), 6º – Jacques Wagner (BA), 7º – Roberto Requião (PR), 8º – Sérgio Cabral (RJ), 9º – José Roberto Arruda (DF) e 10º – Yeda Crusius (RS)
O mais interessante é que Arruda vinha em 6º lugar na pesquisa anterior. Ou seja, estaria na frente de cabralzinho, se não tivesse sofrido o massacre causado pelo escândalo do mensalão.
Assim, para o governador do Estado do Rio, a situação estava ficando desesperadora. Para revertê-la, ele teve então a idéia de simular a “PACIFICAÇÃO DA FAVELAS”, de forma a utilizar essa “conquista” como principal meta que teria cumprido em seu governo, de forma a pavimentar seu caminho rumo à reeeleição.
O governador já tinha maus antecedentes nesse particular, porque, antes da realização dos Jogos Panamericanos, fizera um surpreendente ACORDO COM AS CHAMADAS “MILÍCIAS”. Esse entendimento com as “milícias” foi público e notório, fartamente divulgado e comentado pelos jornais.
Bem, com a experiência obtida no acerto com as milícias, o governador baixou ainda mais o “nível”, e começou a fazer acordos também com os traficantes, nas seguintes bases. 1) Os “soldados” e “olheiros” do tráfico sumiriam do mapa, ninguém mais seria visto portando armas nem usando máscaras do tipo ninja, os tiroteios e as balas perdidas cessariam. 2) Os favelados não mais seriam incomodados pelos criminosos. 3) A Polícia Militar se faria presente, e aparentemente controlaria a situação. 4) Mas o tráfico não seria mais reprimido, desde que realizado com discrição.
Os traficantes adoraram e aceitaram na hora. Por isso, não foi disparado um só tiro em nenhuma dessas operações de “ocupação” das favelas. Para os donos do tráfico, o negócio teve seus custos muito reduzidos, porque puderam dispensar muitos “soldados” e “olheiros” que diminuíam os lucros. Além disso, não precisavam comprar mais armas nem munição.
O prazo de 48 horas (que o governador proclamou ter dado aos traficantes) não foi para saírem das favelas, mas simplesmente para se adaptarem à nova situação. Essa realidade é facílima de comprovar, não é preciso ser nenhum Einstein para chegar a uma claríssima conclusão. Ou será que ALGUÉM ACREDITA QUE O TRÁFICO PAROU?
Esse acordo cabralzinho-traficantes é tão claro e acintoso, que chega a ser ridículo. Vamos analisar o caso da Zona Sul, por exemplo. Se o tráfico estivesse interrompido nas favelas já “pacificadas”, haveria permanenteENGARRAFAMENTO DE DROGADOS nas demais “bocas” da Zona Sul, como Cerro Corá, Morro Azul, Pereirão, Rua Alice (Júlio Ottoni), e Gávea, mais isso não está acontecendo. Pelo contrário, os drogados estão preferindo se abastecer nas favelas “pacificadas”, onde não correm o risco de “levar uma dura”.
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PS – Outra demonstração clara é a atual carência de notícias sobre apreensão de drogas. Não parece estranho? Alguém acredita que o trafico realmente parou. Ha!Ha!Ha! Seria cômico se não fosse trágico.
PS2 – Se os traficantes tivessem sido realmente impedidos de atuar, a Zona Sul teria se tornado um inferno, com assaltos e mais assaltos nas ruas. Afinal, esses criminosos “pacificados” estão hoje se dedicando a que ramo de atividade? Será que aderiram aos secos e molhados? Ou pensam em entrar na política, já que estão agora tão “chegados” às autoridades.
PS3 – As matérias publicadas por O Globo sobre o tráfico liberado na “pacificada” Cidade de Deus (com a volta dos caça-níqueis, também) mostram irrefutavelmente a cumplicidade polícia-traficantes.
PS4 – O mais inacreditável foi a declaração do Secretário de Segurança a O Globo. Textual: “Uma filmagem numa esquina onde há a venda de 10 ou 15 papelotes, considerando que são viciados, é factível. É um caso de saúde pública. São pessoas que precisam de tratamento”, disse ele, e completou: “O resultado positivo é infinitamente mais importante que a venda de meia dúzia de papelotes”.
PS5 –É claro que a “pacificação” tem um lado positivo, que é o fim dos tiroteios e das balas perdidas, trazendo um pouco de paz às comunidades. Mas esse objetivo jamais poderia ter sido alcançado mediante a “legalização” do tráfico de drogas, que tanto mal causa à sociedade como um todo. E tudo isso, ressalte-se, com fins meramente eleitorais.
Ps6 – O morador da Cidade de Deus que mandou as fotos a O Globo é um cidadão consciente, tentando desmontar uma farsa. Agiu como menino do conto genial de Hans Christian Andersen, que apontava o dedo e dizia que o rei estava nu, enquanto as outras pessoas, acovardadas, fingiam não ver.
PS7 – O blogueiro Yuri Sanson nos mandou ontem uma mensagem levantando outra “lebre” sobre o acordo cabralzinho-traficantes: “Só existe pacificação nas favelas dominadas pelo Comando Vermelho”. Será mera coincidência? Aliás, você acredita mesmo em coincidência?
2 Comente aqui:
uma notícia grave como essa tem que ser melhor explorada.
Muito bem desmontada a farsa montada pelo mentiroso e cara de pau governador. Governador??
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