A partir de hoje, o JB inicia uma série de entrevistas exclusivas com candidatos ao governo do estado do Rio. A primeira da série é com Fernando Peregrino.
Com mais de 40 anos dedicados à política, Peregrino está diante de seu maior desafio. Substituindo Garotinho na candidatura ao governo pelo PR, o ex-presidente da Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio se considera o único concorrente de esquerda das eleições - e acredita numa transferência de votos do ex-governador para chegar ao segundo turno.
O senhor ficou surpreso com sua candidatura? - Foi um desfecho que a gente não queria, mas que tem que se resignar a ter. A perseguição ao Garotinho, sobretudo no último mês, quando se avizinhou a inscrição, desabou um esquema composto por agentes econômicos e políticos que se propuseram a retirá-lo da campanha. Temiam que ele, sendo candidato, pudesse desconstruir o governo Cabral. Na última semana, cogitou-se eu ser vice dele, mas ao final não havia mais condições, era precisomudar um pouco a rota, para mais na frente retomá-la. Como tenho ligações com ele, na corrente trabalhista, nacionalista, ele me incumbiu disso. Sei que os militantes ficaram decepcionados - eu também. Ficamos frustrados, mas as ideias são as mesmas, o plano é o mesmo, e minha capacidade de implementar está à altura do desafio.
As últimas projeções em que Garotinho aparecia como candidato a governador o colocavam num patamar de 20% dos votos. Sem ele, Cabral aparece com larga vantagem. É possível chegar ao percentual de Garotinho? - Sim, a capacidade de transferir votos dele já é reconhecida. Transferiu para o Lula no segundo turno das eleições de 2002, para Rosinha, na disputa pelo governo do estado, elegeu a filha dele (Clarissa Garotinho) a vereadora mais votada do PMDB, praticamente fez com que Rosinha voltasse a prefeitura de Campos... A própria vitória do Cabral, transferindo votos do interior. Acredito que a gente vai levar essa campanha para o segundo turno.
Qual será a linha da sua campanha? - Vamos fazer o que Garotinho fez - mais e melhor. Ele reconfigurou a economia do Rio, que ficou mais bem distribuída, com empresas implantadas em vários lugares, não apenas na capital. Éramos uma economia de serviços, decadente. O PIB do interior correspondia a 38% do PIB do estado, e depois dos governos Garotinho e Rosinha, pulou para quase 60%. Foram vários investimentos na retomada de polos industriais como a siderurgia, o pólo gás-quimico, o pólo automobilistico, de vestuário na região Serrana, da indústria naval...Queremos avançar, transformar o Rio na capital do pré-sal, por que temos o petróleo, temos a tecnologia, temos mão de obra qualificada, todos os elementos para implantar a cadeia produtiva do pré-sal.
O senhor tem feito críticas duras ao governo Cabral. Essa será uma das linhas da campanha? - As falhas do Cabral são muito visíveis, ele usa práticas pouco republicanas. Não pode haver permissividade entre público e privado, como o convívio na mesma família entre poder concedente e poder concessionário, como no caso do metrô e da Supervia. Outra prática é a transgressão dos gastos de publicidade vedados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Cabral gasta hoje mais em publicidade do que a média dos últimos três anos. São cerca de R$ 170 milhões - mais que o dobro do que foi gasto entre 2007 e 2009.
O senhor ainda guarda alguma mágoa de Cabral? - Sim, por que assisti ele cooptando pessoas com cargos, mas sobretudo por ele ter sido eleito com os votos de Rosinha e Garotinho, e, no primeiro momento, ter feito oposição cerrada aos projetos dos governos anteriores.
Como o senhor se posiciona entre as candidaturas de Cabral e Gabeira? - Nós somos a primeira ou segunda força política do estado, com partido organizado em 92 municípios e a maior liderança viva do Rio. Garotinho é herdeiro do papel de Brizola no estado. Tenho convicção de que vamos polarizar. Em um mês, vamos alcançar 10% a 15% do eleitorado, e vamos disputar o segundo turno.
Quais serão as principais propostas de campanha? - Queremos usar 50% do Fundo de Pobreza para construir 100 mil casas populares, cada uma ao custo de R$ 50 mil. Também vamos retomar o modelo dos Cieps, com educação em período integral e formação continuada dos professores. Nós retrocedemos no último Ideb, chegamos ao mesmo patamar do Piauí, que não tem as mesmas universidades, centros de pesquisa que o Rio. Cabral confundiu entrega de laptops aos professores com implantação de políticas educacionais. Vamos rever e questionar as expansões das concessões do Metrô e da Supervia, até porque o serviço que está sendo prestado não justifica nem a manutenção da presente concessão.
As Unidades de Polícia Pacificadora, carros-chefes do governo Cabral, serão mantidas? - As UPPs são um modelo capenga. Nunca vi um sistema que quer reprimir o criminoso anunciar que vai prendê-lo, ou que vai entrar no reduto onde ele tem controle. O número de drogas e armas apreendidas diminuiu, e o número de bandidos presos também. A criminalidade começou a aumentar, sobretudo no interior. É preciso policiamento, mas também prestação de serviços. Por isso, o melhor modelo é o Centro Comunitário de Defesa da Cidadania. Policial não pode ser assistente social, não é sua função.
Como será sua campanha na internet? - Já comecei a twittar, meu endereço é @fperegrino1. Mas eu gosto mais do blog, dá para elaborar mais o pensamento. Vamos montar um portal e usar muito a internet. Eu fui, inclusive, um pioneiro aqui no estado, já que à frente da Faperj montei a primeira plataforma utilizada para transmissão de dados do Rio, utilizada durante a Conferência Mundial de Meio Ambiente, em 1992.
Como vai se dividir a campanha de Dilma Rousseff com Sérgio Cabral? - Eu tenho muito mais afinidade com a Dilma do que ele. Lamento que esteja apoiando o Cabral, mas ela é uma pessoa de esquerda, progressista, foi do PDT como eu, vai me dar apoio, sim. Ela precisa dos votos do Garotinho no Rio, e os votos dele são meus votos também.
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Muito boa a entrevista. Parabéns, Peregrino. Garotinho é Peregrino. Rumo a vitória.
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