O jornalista Ricardo Noblat publica hoje em seu blog que a tragédia de Angra já estava anunciada desde que o governador Sérgio Cabral assinou decreto permitindo a ocupação de áreas de preservação ambiental e quando o Ministério Público Federal na região elaborou um parecer apontando irregularidades nas novas regras.
Leiam a íntegra abaixo
De Renata Lo Prete:
Em setembro, três meses depois da edição do decreto de Sérgio Cabral (PMDB) que permitiu ocupação maior em áreas de preservação ambiental, como o local da tragédia em Angra dos Reis, o Ministério Público Federal na região elaborou um parecer apontando irregularidades nas novas regras.
O texto alerta para o risco de crescimento imobiliário desordenado e defende que esse tipo de alteração territorial só poderia ser feita por meio de lei. O relatório foi enviado ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Para referendar o documento, os procuradores se ampararam em uma decisão sobre um caso semelhante do ministro Celso de Mello, do STF.
Dado seu caráter tolerante para com as construções de ricos e famosos, as regras do governo do Rio para Angra ganharam na região o apelido de "decreto Luciano Huck", em alusão à casa que o apresentador tem no local.
Desculpas à parte, mesmo aliados de Sérgio Cabral acham que o governador errou feio ao não comparecer logo no dia 1º ao cenário da tragédia em Angra, relativamente próximo a Mangaratiba, local onde o peemedebista festejou a virada do ano com família e amigos.
Chamou a atenção o fato de, quando finalmente resolveu aparecer, o governador ter circulado levando a tiracolo o deputado federal Luiz Sérgio, recém-eleito presidente do PT no Rio e ex-prefeito de Angra.
E aí, Lindinho? Nem sequer de leve vai censurar o governador Sérgio Cabral por ter sumido nas primeiras 24 horas após o deslizamento de terras em Angra dos Reis? Ali morreram 46 pessoas.
Lindinho é como chamam Lindberg Farias, prefeito de Nova Iguaçu, ex-aspirante a candidato do PT ao governo. E, até outro dia, crítico de Cabral.
Os dois chegaram a um acordo. Sob pressão de Lula, Cabral topou apoiar a candidatura de Lindinho ao Senado - e Lindinho topou transferir para daqui a quatro anos a pretensão de ser candidato ao governo. Benedita da Silva (PT), ex-governadora do Rio e também candidata ao Senado, detestou o acordo.
E aí, Bené? Como Lindinho, nada dirá a respeito do apagão de Cabral?
Bobagem! Bené está impedida de dizer qualquer coisa que deixe Cabral aborrecido. Afinal, ela é Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos do governo dele. Reza para que não vingue o apoio de Cabral a Lindinho.
Tudo bem, mas Alessandro Molon, o deputado estadual do PT mais votado em 2006, poderia perguntar a Cabral por que ele preferiu despachar para Angra seu vice Luiz Fernando Pezão, só aparecendo por lá um dia depois.
No dia da tragédia, nem Lula conseguiu falar com Cabral. Sem o apoio de Cabral, Molon perdeu feio a eleição de 2008 para prefeito do Rio.
Molon calou-se.
De sua parte, Cabral repeliu, indignado, a suspeita de que voara para o exterior.
“Estão querendo plantar que eu estava fora do país? Eu estava em Mangaratiba”, jurou.
Melhor que não estivesse. Mangaratiba fica a 57 quilômetros de Angra, que por sua vez fica a 157 quilômetros da cidade do Rio, de onde saiu Pezão.
Em julho de 2007, por causa da morte de 26 peregrinos poloneses em um acidente de ônibus entre Cannes e Grenoble, três ministros da França voaram para o local, distante 600 quilômetros de Paris.
François Fillon, o primeiro-ministro, também voou, assim como Sarkozy, o presidente da República. E mais Lech Kaczynski, o presidente da Polônia.
Peregrino polonês vale mais do que ilhéu ou turista que visita Angra?
Por que os políticos brasileiros são pouco solidários com a população?
Sabem adulá-la atrás de votos. Na hora da dor, guardam distância.
Lula, em julho de 2007, guardou distância de São Paulo onde se espatifara um Airbus da TAM, matando 199 pessoas.
O PT foi para cima do governador José Serra (PSDB) e do prefeito Gilberto Kassab (DEM) cobrando providências contra o recente alagamento de parte da cidade de São Paulo.
O PT finge que o governo Cabral nada tem a ver com os estragos provocados pelas chuvas no Rio. Morreram 66 pessoas entre quarta-feira e sábado.
Os cariocas assistem conformados à reprise de um filme triste e antigo. No fim do filme, são eles que morrem varridos pelas águas.
O governo de plantão - qualquer um - joga a culpa nos governos passados. E de tragédia em tragédia, vai-se levando.
Cabral anunciou que transformará em parque ambiental as áreas de Angra afetadas pelos deslizamentos.
“A ideia é identificar as casas que devem ser removidas. Orçamento não é problema. Vamos listar as famílias para depois indenizá-las”, prometeu.
Ora, o decreto 41.921, de junho último, assinado por Cabral, afrouxou as regras de construção em áreas de preservação ambiental de Angra e de várias ilhas.
Uma petição com mais de 5 mil assinaturas exige a revogação do decreto, rejeitado pelas principais entidades ambientalistas do Estado, a representação do IBAMA em Angra, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e... Sim, e Molon.
O Ministério Público Federal considera o decreto inconstitucional porque não há lei que o ampare.
Molon apresentou na Assembléia um projeto de Decreto Legislativo que susta os efeitos de alguns artigos do decreto de Cabral.
Se está de fato empenhado em evitar que ocorram novos desastres como o da Ilha Grande na madrugada da sexta-feira, de saída Cabral poderia revogar seu decreto infeliz.
Mas isso só não basta, é claro.
Leiam o que publicamos sobre a tragédia
http://amigosdogarotinho.blogspot.com/2010/01/blogueiro-pergunta-quem-sabe-do.html
http://amigosdogarotinho.blogspot.com/2010/01/chuvas-cabral-finalmente-aparece-e.html
1 Comente aqui:
Depois que resolveu aparecer, Cabral só disse bobagens, inclusive sobre respeito às legislações ambientais. Inacreditável, porque ele é um dos culpados pela bagunça ambiental de Ilha Grande.
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