Para não piorar situação dos abrigos, Guarda Municipal dispersa mendigos antes das operações de acolhimento

O Jornal do Brasil desta segunda-feira (25) publica reportagem sobre a triste situação dos moradores de rua da cidade do Rio. Além da falta de infraestrutura dos abrigos, que não recebem investimentos da prefeitura de Eduardo Paes, não há mais vagas nos abrigos mantidos pela prefeitura.


A reportagem também revela que a Guarda Municipal ao invés de recolher os mendigos, costuma chegar momentos antes das operações de acolhimento para avisá-los de que as vans estão perto só para não levar mais ninguém para os abrigos. Ou seja, são operações de mentira nas ruas do Rio de Janeiro.

Vergonhoso!

Leia abaixo a íntegra da reportagem

Não há mais vagas em abrigos

Evelyn Soares, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - A população que mora nas ruas do Rio não para de crescer: dados da Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) apontam 4.200 pessoas dormindo nas calçadas atualmente. O problema é que as 2.225 vagas nos 35 abrigos sob a administração da prefeitura estão preenchidas. O secretário municipal de Assistência Social, Fernando William, afirma que, mesmo com o déficit de 1.975 vagas, as operações de acolhimento continuam.

Na prática, porém, não é bem assim. Na semana passada, um guarda municipal alertou um grupo de cerca de 30 mendigos e meninos de rua que bebiam cachaça e cheiravam solvente na areia de Copacabana, na altura da República do Pero, que as vans do choque de ordem estavam a caminho. O grupo então se dispersou e, quando o aparato chegou, apenas duas meninas de rua drogadas e um rapaz com um corte no pé foram acolhidos.

Em resposta, a Secretaria de Estado de Ordem Pública (Seop) informou que o guarda agiu corretamente “em não permitir que as pessoas se instalem nas ruas, transformando as mesmas em moradia”.

A Seop e as subprefeituras retiraram das ruas, de janeiro a outubro do ano passado, 14.060 pessoas. Só nas duas primeiras semanas deste ano, 1.690 já passaram pelo Centro de Triagem Tom Jobim, na Praça da Bandeira.

Os números são altos porque muita gente não aceita ficar no abrigo e retorna para as ruas.

– A gente faz um grande esforço para que o indivíduo não volte para a rua. Mas caso não haja vaga, mesmo que esse não seja o lugar certo, é para a rua que ele vai retornar – reconhece Fernando William.

No Centro de Triagem, a pessoa acolhida é cadastrada. Caso uma vaga surja em albergue ou hotel custeado pelo município no prazo de 48 horas, ela é encaminhada para lá.

Quem consegue, pode permanecer no local por até seis meses. Nesse tempo, o governo garante meios para que possa se sustentar, através de cursos profissionalizantes e aumento de escolaridade. Existem contatos com contatos com sindicatos e empresas para inserção no mercado de trabalho.

Atualmente, a prefeitura está reformando o abrigo para idosos Dina Sfat, no Recreio dos Bandeirantes (que terá 24 vagas); o Calamares, na Ilha do Governador e destinado a crianças; e o Ayrton Senna, no Maracanã, o maior deles.

O secretário de Assistência Social se reuniu no último dia 16 com o prefeito, para discutir novos métodos de abordagem nas ruas e de triagem. Eduardo Paes sugeriu a ampliação da rede, aumentando o número de vagas, construindo novos locais ou alugando espaços físicos maiores. Melhorar a qualidade dos já existentes também é uma das metas. Segundo Fernando William, o prefeito está disposto a realizar “um grande investimento”.

Nos abrigos, as histórias de cada um são muito diferentes. Uns foram obrigados a sair de casa, outros fugiram, alguns não têm documentos. Casos de envolvimento com drogas são muito freqüentes. Além da falta de lar, a quebra de laços com os parentes é comum.

Já o aumento do número de pessoas com distúrbios mentais é explicável: deu-se após a reforma manicomial e o fechamento dos hospitais psiquiátricos, quando a maioria dos pacientes retornou para a casa de suas famílias e muitos foram dali para as ruas.

– Há familiares que não têm condições de cuidar, ou não os querem de volta, e acabam abandonando as pessoas. Quando estão em um surto, outros acabam fugindo de casa – explica Cinthia Gouveia, diretora interina do Centro de Acolhimento Plínio Marcos.

No abrigo visitado pelo JB, o mais interessado no que acontecia era Anderson Lima, de 20 anos, que tem problemas psiquiátricos. Um dos que cuidam dele é o educador social Maurício Moês, de 38 anos, que trabalha há dois no abrigo, e afirma que, mesmo com todas as dificuldades, ama o que faz.

– Nosso objetivo reinserir os indivíduos na sociedade, estimulando a saída do abrigo, o que facilita a procura de trabalho e uma nova ligação com a família.

Fernando William fala das metas até o fim do governo:

– Queremos criar um ambiente agradável e digno para que essas pessoas possam se sentir melhor.

1 Comente aqui:

Fabio Noronha disse...

Que exemplo é esse que a Guarda Municipal dá. pelo amor de Deus