Zero, nota zero no quesito segurança do Sambódromo

Se depender da Riotur e do prefeito-factóide Eduardo Paes, o Sambódromo já começa o desfile com nota ZERO em segurança. Em mais uma demonstração de descaso com a população, é preocupante o estado de conservação do palco da maior festa popular do mundo.

Leia abaixo a reportagem de O Globo On Line

Goteiras e rachaduras enfeiam o Sambódromo, palco dos desfiles de carnaval do Rio

Palco da maior festa popular do mundo, o Sambódromo carioca não está preparado para fazer bonito neste carnaval. No quesito conservação, o espaço criado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e inaugurado em 1984, está deixando a desejar.

A constatação é do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea), que, a convite do GLOBO, realizou uma vistoria nas dependências da passarela do samba na tarde desta segunda-feira. Em menos de uma hora de visita às dependências da pista oficial de desfiles das escolas de samba, foram encontrados ferros aparentes, inúmeras rachaduras, goteiras e pinturas mal acabadas.

Presidente do Crea, Agostinho Guerreiro acompanhou a vistoria e afirma que desde fevereiro do ano passado, quando já havia participado de uma inspeção no local, também a pedido do GLOBO, foram feitas pequenas melhorias e muita maquiagem:

- Há fissuras espalhadas por todo o setor 2 e muitos remendos. Os problemas que encontrei na última vez em que estive aqui se alastraram ainda mais, o que é um mau sinal. O tipo de trabalho recomendado para a recuperação das paredes deveria ser executado por especialistas, e não por pedreiros, como aparenta. Eles só deram uma guaribada. Se continuar assim, a tendência é piorar e, num prazo de aproximadamente dez anos, a estrutura poderá colocar em risco a vida do público que vier assistir aos desfiles - diz Guerreiro.

Apesar de o estado de conservação da passarela do samba não ser o ideal para receber um público de 80 mil pessoas, os técnicos do Crea asseguram que não há risco iminente de desabamentos. Mas o engenheiro civil Antônio Eulálio, especializado em patologia das estruturas, considera o caso sério e acredita que o descaso com a estrutura do local seja resultado da mudança na administração da cidade:

- É grave o processo de deterioração do concreto, e esse problema é causado principalmente pelas chuvas ácidas e pela maresia característica de toda cidade litorânea, que pode agir a até sete quilômetros da praia. Precisa ser feita uma reforma plena e não paliativa e de improviso como fizeram. Acho que esse desleixo pode ser consequência da falta de continuidade administrativa - supõe Eulálio.

Entre os pontos mais críticos na estrutura do Sambódromo, de acordo com a avaliação dos técnicos do Crea, estão a fachada e a base das arquibancadas do Setor 11, que apresentam ferros expostos ao calor e algumas goteiras:

- Não posso falar que o concreto vai ceder em 24 horas. Mas nos próximos anos, se não for tomada uma medida eficaz, a coisa vai ficar feia. Isso aqui é um patrimônio histórico e não pode ficar desse jeito. É necessária uma intervenção global e não pontual. A grande questão é que ninguém resolve o problema no momento inicial. Se tudo fosse sanado de imediato, muitas consequências perigosas seriam evitadas - completa Agostinho Guerreiro.

Órgão responsável por manter e conservar o Sambódromo, a Riotur, através de sua assessoria de imprensa, afirma que, ao longo de 2009, foram realizadas pequenas melhorias estruturais, como na iluminação e no cabeamento da avenida. Mas a obra completa para reparar os problemas apurados pelo Crea será feita apenas para os Jogos Olímpicos de 2016, quando a Passarela do Samba será utilizada para provas esportivas como arco e flecha e maratona.

-Temos conhecimento de todos os problemas, mas, como aguardávamos o resultado do Rio da escolha da sede das Olimpíadas, chegamos à conclusão de que não adiantava fazer nada antes da confirmação de que venceríamos. Depois disso, foram feitas obras paliativas, como nas escadas de acesso à torre que os fotógrafos e cinegrafistas utilizam para registrar as imagens dos desfiles. O objetivo era não gastar dinheiro da forma errada. Mas, após o carnaval desse ano, será feita a reforma - promete o presidente da Riotur, Antonio Pedro.

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