O influente jornalista Dacio Malta publica uma crítica ao (des) governador Sérgio Cabral em seu blog Alguém me disse, no site YouPode.
29 de janeiro de 2010 por Dacio Malta
O governador Sergio Cabral anunciou hoje, em Londres, o que poderia ser dito no Rio: o Palácio Gustavo Capanema, que foi sede do Ministério da Educação e da Cultura, considerado um marco da arquitetura brasileira, será o QG do Comitê Organizador da Rio 2016 e da Autoridade Olímpica.
E daí?
Daí que a questão dos cartolas já está encaminhada: Carlos Alberto Nuzman e Orlando Silva terão seus gabinetes naquela jóia do Rio de Janeiro. E obviamente isso não foi decidido em Londres.
Mas diz o fanfarrão:
“Essa escolha é mais uma prova de que a preocupação com o legado já começou, porque o Palácio Gustavo Capanema é lindíssimo, um prédio projetado com equipe que incluiu Le Corbusier. e que estava ali, ocioso, com pouco uso. Foi uma decisão extraordinária para o Rio de Janeiro, um grande presente para a cidade” - disse Cabral.
Em primeiro lugar não existe legado para cidade. Esse presente foi dado ao Rio pelo Presidente Getúlio Vargas, em 1936. Portando, 27 anos antes do nascimento do fanfarrão.
E o legado foi deixado por Juscelino Kubistchek quando ele mudou a capital para Brasília, em 1960, três anos antes do nascimento do governador. Não se pode dizer nem que JK foi generoso com a cidade, já que ele não podia levar o prédio construído por Oscar Niemeyer, Lucio Costa e Eduardo Reidy, além de ter um belíssimo painel de ajulelos de Portinari, os jardins de Burle Marx, as esculturas de Bruno Giorgi, e as telas de Guignard e Pancetti.
Em segundo lugar, Cabral diz que o prédio está ocioso, o que não é verdade. Ele não está funcionando com a sua capacidade máxima, já que a sede do Ministério mudou-se há 50 anos.
Em terceiro lugar, o governador nada teve a ver com essa decisão. Nem foi ele quem pediu, nem foi ele quem cedeu. A idéia foi de Nuzman, e quem trabalhou para viabilizá-la foi o ministro Orlando Silva, que conseguiu a aprovação do ministério do Planejamento.
Então porque anunciar isso em Londres? Por que lá ninguém perguntaria ao fanfarrão, os assuntos sobre os quais ele não quer responder.
Depois de visitar o Parque Olímpico – o que ele já havia feito no final do ano passado, juntamente com o Presidente da República (para uma visita de 40 minutos, ele ficou uma semana fora do país) – Cabral disse que “Londres decidiu construir o seu Parque Olímpico em uma área onde havia mais crimes e traficantes. A partir dos jogos, Londres entregará uma região recuperada e para uso diversificado a cidade”.
Se esse é, na verdade, um extraordinário exemplo de legado, por que então não construir nossa Vila Olímpica no morro do Borel, no dos Macacos ou no Complexo do Alemão?
Diz o governador:
“É decisivo para o êxito de um desafio como sediar as Olimpíadas de 2016, ter a humildade de aprender com quem fez e está fazendo”.
Que bom, para ele, que as próximas Olimpíadas serão em Londres, a maior e mais importante cidade européia, e a que recebe mais turistas em todo o mundo, mais até que a sua querida Paris. E sorte a do governador que os jogos não serão em Angola, Bolívia ou Afaganistão.
Mas diz ele ainda:
“É natural a ansiedade da sociedade, da imprensa, das organizações cobrando o próximo passo”.
Mas quem está ansioso?
Eu não conheço ninguém que esteja. Até agora, o único ansioso dessa história é o próprio governador, que se arvorou em dar um passeio
Ele poderia argumentar que, mesmo não estando no comando do governo em 2016, ele tem que tomar as providências necessárias até lá, para que tudo se realize a contento.
Poderia até ter razão se as Olimpíadas fossem do Estado do Rio de Janeiro. Só que elas são da cidade do Rio de Janeiro, e o responsável por tudo é o Prefeito Eduardo Paes, que curiosamente não viajou para Londres. Ponto para o prefeito que, certamente decidiu ficar aqui, pois tem mais o que fazer em seu gabinete de trabalho.
Cabral não tem nada a ver com nada.
Nem o livro de compromissos ele assinou.
Nem mesmo como testemunha.
Cabral está em Londres… de alegre que ele é.
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