Jornalista denuncia: Eduardo Paes quer comprar mansão sem saber o que vai fazer com o imóvel

“Se o prefeito Eduardo Paes não tem o que fazer com R$ 10 milhões, faça como o patriarca Guilherme Guinle (1882-1960): proteja os hospitais do Rio Janeiro”

O conselho acima é do tarimbado jornalista Elio Gaspari ao analisar a idéia de jerico – mais uma – do prefeito do Rio, Eduardo Paes, de gastar dez milhões de reais para comprar uma mansão em Botafogo.

Nem Eduardo Paes, como confessou, sabe a utilidade de comprar a tal mansão, que foi moradia da tradicional família Guinle.

“A cinco minutos dali ( da mansão), caindo aos pedaços está o Hospital Rocha Maia. Por que a Viúva gastará semelhante ervanário para comprar uma exuberância sem saber o que fazer com ela?”, indaga o jornalista.

Leiam a íntegra do artigo abaixo:

ELIO GASPARI

Os palacetes de uma elite mal assombrada

Os EUA tiveram seus grandes "barões ladrões", o capitalismo de Pindorama nem isso conseguiu

A PREFEITURA DO RIO de Janeiro pretende comprar o palacete que pertence à família Guinle de Paula Machado, na rua São Clemente (Botafogo). Os donos queriam R$ 15 milhões, mas deixariam por R$ 10 milhões. A cinco minutos dali, caindo aos pedaços, está o Hospital Rocha Maia.

Por que a Viúva gastará semelhante ervanário para comprar uma exuberância sem saber o que vai fazer com ela? A casa, tombada pelo Iphan, está em bom estado, assim como seus mil metros quadrados de jardins. Se alguém estiver interessado, que faça uma oferta, deixem a Boa Senhora longe dessa.

No final do século 19 e nas primeiras décadas do 20 os endinheirados do Rio de Janeiro construíam palacetes em Botafogo, e os mais belos ficavam na São Clemente. Nessa mesma época os milionários americanos erguiam mansões na Quinta Avenida, em frente ao Central Park. Quem percorrer esses trajetos poderá admirar a grandeza do capitalismo americano e a desgraça da plutocracia brasileira bem relacionada.

Na Quinta Avenida sobrevivem as casas de Henry Frick; a Starr Miller, comprada por Ronald Lauder; a do banqueiro Felix Warburg; e a do magnata do aço, Andre Carnegie. Todas hospedam instituições culturais privadas. Frick deixou o palacete com centenas de obras primas. (Vermeer? Três. Rembrandt? Quatro.) Ninguém se lembra dele como o mandante, em 1892, de um massacre de operários grevistas, nem dos dois tiros que tomou no pescoço, disparados por um anarquista.

Lauder criou a Neue Gallery, para a qual comprou o retrato de Adele Bloch-Bauer, de Gustav Klimt. Na casa de Warburg funciona o Museu Judaico. Mais adiante está o palácio de Carnegie, o maior entre os "barões ladrões", foi o homem mais rico dos Estados Unidos no início do século e provavelmente o maior filantropo de sua história. Nela há um centro de exposições de desenho.

Na rua São Clemente a história foi outra, os plutocratas construíram palacetes, regalaram-se e, quando as heranças encurtaram, penduraram-se quase todos na bolsa da Viúva. A de Rui Barbosa hospeda uma instituição exemplar. A mansão de um comerciante português, onde funcionou o Colégio Jacobina, tornou-se um Centro de Arquitetura e Urbanismo da prefeitura que vive na indigência.

O palácio do embaixador inglês foi comprado pela prefeitura num negócio esquisito, no qual pagou pelos móveis quatro vezes mais do que o preço do imóvel. Em alguns casos, os prédios foram preservados por empresas, mas onde a Viúva pagou a conta, quase nada sobrou para a patuleia.

Noutro bairro, o filho do barão de Nova Friburgo, falido, vendeu à República o Palácio do Catete. Quem o visita e depois vai à casa de Carnegie pensa que o magnata americano era um avarento. O mesmo acontecerá ao paulista que visitar o Palácio dos Campos Elíseos, repassado à Boa Senhora pelos descendentes de Elias Pacheco Chaves.

Os Guinle foram uma das famílias mais ricas da República Velha. Fizeram dinheiro com indústrias, obras e concessões de serviços públicos. Lá atrás, tiveram o equivalente a R$ 2 bilhões. Enquanto ganharam mais do que gastavam, souberam distribuir sua fortuna. Se o prefeito Eduardo Paes não tem o que fazer com R$ 10 milhões, faça como o patriarca Guilherme Guinle (1882-1960): proteja os hospitais do Rio de Janeiro.

3 Comente aqui:

Edu disse...

O cara que torrar dez milhões numa mansão e não sabe o que fazer com ela? Sinceramente, ou é mais um caso de polícia dos cupinchas de Cabral ou de internação num manicômio

Gabriel disse...

A Saúde em pandarecos e esse menino maluquinho querendo torrar dez milhões numa mansão. Aí tem coisa...

Silviano disse...

dinheiro público jogado fora. enquanto isso os postes caem, bueiros explodem, os viadutos estão em péssimas condições...etc