No Rio de Janeiro, o governador Sergio Cabral, o prefeito Eduardo Paes e o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, parecem estar de mãos dadas, infelizmente, no abandono aos pacientes soropositivos.
Leiam abaixo a reportagem do Globo On Line que revela que os pacientes com HIV enfrentam falta de remédios e médicos em postos do Rio, além da demora para realização de exames em unidades federais.
Uma vergonha!
O sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, já dizia que quem tem Aids tem pressa. No Rio, a corrida dos pacientes soropositivos da rede pública é para superar a falta de medicamentos e de profissionais para atendê-los. Os antiretrovirais, que inibem a reprodução do vírus no sangue, são encontrados sem transtornos.
A dificuldade é para conseguir remédios que combatem efeitos colaterais do coquetel e os que tratam infecções oportunistas. Outro entrave que esses pacientes precisam enfrentar é a longa demora para a realização de exames de CD4 (que verificam como está o sistema imunológico) e de carga viral.
No Posto de Assistência Médica (PAM) Antonio Ribeiro Netto, mais conhecido como PAM Treze de Maio, o Programa DST/Aids conta atualmente com três infectologistas para atender a mais de 1.500 pacientes que recebem medicação.
-Temos que optar entre o paciente que está mal e o que está bem e quer fazer um acompanhamento de rotina. Não podemos recusar novos doentes, mas como atender nessas condições? - indaga um médico do PAM que prefere não se identificar.
Segundo o presidente da Comissão de Saúde da Câmara dos Vereadores, Carlos Eduardo (PSB), que realizou uma vistoria na unidade na última quinta-feira, faltam 27 tipos de medicamentos, sendo sete deles comumente usados por pacientes soropositivos.
Desde dezembro, o PAM não recebe Amoxicilina com Clavulanato, Azitromicina e Eritromicina (antibióticos que podem ser receitados para infecções oportunistas), Fluconazol (usado para infecções como cândida, sintoma de baixa de imunidade), Metronidazol (creme vaginal), Paracetamol (usado para febre e dor) e Sinvastatina (combate o aumento da gordura do sangue, um dos efeitos colaterais do coquetel).
- A situação deste posto reflete como está a rede. Esses medicamentos não faltam só no PAM Treze de Maio. Além disso, somente nesta unidade, os médicos são responsáveis por uma média de 500 pacientes, enquanto o ideal é que eles atendessem no máximo 360. O programa brasileiro de Aids é referência no mundo inteiro. O Rio vai na contramão disso - afirma o vereador.
Uma aposentada de 74 anos, que prefere não se identificar, é uma das pacientes soropositivas que precisam do Aciclovir. Paciente do Centro Municipal de Saúde João Barros Barreto, em Copacabana, ela toma quatro comprimidos por dia, mas ficou um mês e meio tentando pegar o medicamento. Somente nesta segunda-feira, ela conseguiu a medicação. A quantia recebida, no entanto, só é suficiente até 15 de fevereiro:
- No início de fevereiro vou ter que voltar lá para tentar de novo. Não fossem as doações que eu consigo, não sei como faria. O problema todo é que a falta do medicamento é constante, e não podemos pegar mais quantidade e estocar, mesmo sabendo que no próximo mês pode não ter.
Exames demoram até 45 dias para ficarem prontos
A incerteza também paira sobre o advogado José Luiz Santos da Silva, de 44 anos, toda vez que ele vai fazer exames necessários para o acompanhamento da doença. Paciente do PAM da Cinelândia, ele precisa ir ao Hospital Escola São Francisco de Assis, da UFRJ, para realizar os testes, que, segundo ele, demoram, em média, de 30 a 45 dias para ficarem prontos.
Em agosto do ano passado, ao chegar à instituição para pegar o resultado dos testes que havia feito em junho, ele recebeu a informação de que um problema técnico impediu a realização do exame. Segundo ele, a instituição afirmou que não entrou em contato, pois ele só tinha e-mail e celular.
- Eu normalmente entro em pânico quando vou fazer esses exames. Isso é muito importante para nós porque sabermos como está a evolução da doença. Para fazer o exame, você tem que se acalmar porque isso influi no resultado. Aí, depois de 45 dias, você tem que passar por tudo isso de novo. Você sabe que aquele sofrimento não valeu de nada - conta José Luiz.
Os problemas, no entanto, não são restritos à rede municipal. Há dois meses a coordenadora de três projetos do Grupo Pela Vidda, Mara Moreira, de 33 anos, não consegue na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) o medicamento Bezafibrato, que combate os efeitos colaterais da doença. Como é acompanhada pelo Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz), Mara não pode obter o remédio em outra unidade de saúde:
- Preciso de duas caixas por mês, o que é equivalente a cerca de R$ 120. Infelizmente, não tenho condições de pagar e acabo refém da disponibilidade da Fiocruz.
Secretaria diz que novos médicos irão atuar já nas próximas semanas
A Fiocruz reconheceu que desde novembro não há entrega do Bezafibrato aos pacientes do Ipec. A previsão é de que nas próximas semanas a compra desse medicamento seja concluída e o fornecimento aos pacientes regularizado. A instituição ressaltou, no entanto, que oferece aos seus pacientes o tratamento preconizado pelo Ministério da Saúde para a terapia contra a Aids, não tendo qualquer problema com a disponibilização desses medicamentos aos seus pacientes. Já a UFRJ não quis comentar a demora para a realização de exames no Hospital Escola São Francisco de Assis.
A Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil (SMDC) afirmou que vem reforçando a contratação de médicos especializados, entre eles infectologistas. Segundo o órgão, eles estarão atuando nas unidades já nas próximas semanas.
A secretaria ressaltou, no entanto, que o número de infectologistas da Policlínica Antonio Ribeiro Netto, no Centro, é suficiente para atender a demanda da unidade, pois os cerca de 1.500 pacientes cadastrados não necessariamente fazem uso dos seus serviços.
Sobre a falta de medicamentos, as direções da policlínica e do Centro Municipal de Saúde João Barros Barreto, em Copacabana, afirmaram que o que pode ocorrer são desabastecimentos pontuais, em função da demanda de pacientes. No entanto, os insumos são repostos o mais rápido possível.
A SMDC informou ainda que trabalha na reestruturação de toda a rede e de seus serviços, incluindo a atenção prestada aos pacientes com HIV/Aids. O órgão disse que está preparando unidades para atender especificamente este público com a melhoria estrutural do Hospital Raphael de Paula e Souza, em Curicica, e o Hospital da Piedade, que receberam mais de R$ 1 milhão em reformas.
A organização dos fluxos de atendimento entre as três esferas de governo, visando à implementação efetiva no SUS, para garantia do cuidado integral aos pacientes com HIV/Aids também está em discussão, segundo a secretaria.